Frantz Fanon
SOBRE
O curso Pan-africanismo: tendências e desafios para o Brasil no século XXI, por meio de um ciclo de debates (8 encontros) tratará da unidade, da diversidade e da atualidade do Pan-africanismo, na África e na diáspora negra. As aulas serão ministradas por pesquisadoras e pesquisadores de destaque nas Ciências Sociais, com experiência direta no assunto.
O Pan-africanismo foi uma das teorias políticas mais relevantes do pensamento social africano e da diáspora negra no século XX. Suas premissas básicas, mais consensuais, são as ideias de liberdade e integração para os africanos e para os seus descendentes. É sobre esta herança intelectual, que não trata apenas da África, mas também das questões étnico-raciais da população negra nas Américas, que se debruça este ciclo de debates.
O ciclo de debates pretende sustentar um diálogo público na Universidade, entre docentes, discentes e movimentos sociais. Em especial a UNEAFRO, organização com comprovado trabalho na formação educacional da juventude negra - tão socialmente desfavorecida -, que busca ingressar nas Universidades.
A proposta está em concordânia com uma nova perspectiva Sul-Sul, que motiva diversos grupos acadêmicos internacionais para a superação dos limites eurocêntricos do conhecimento científico tradicional. No Brasil, vê-se crescer também esta mobilização, como mostra o maior interesse de docentes e discentes em aprofundar o seu conhecimento de outras regiões, especialmente da África, em decorrência da lei 10.639/2003.
O Pan-africanismo nasceu da luta de ativistas negros na África e, sobretudo, na diáspora americana, em prol da valorização de sua coletividade. Sua marca inicial, entre fins do século XVIII e meados do século XX, foi a construção de visões positivas e internacionalistas acerca de sua identidade étnico-racial, entendida como comunidade negra: africana e afrodescendente. Nesta primeira fase do movimento, destacam-se nomes como E. Blyden, S. Williams, J. Hayford, B. T. Washington, B. Crowther, J. Horton, M. Garvey e W. E. Du Bois. A partir de 1945, o Pan-africanismo entrou num segundo momento, como parte integrante das lutas de independência nacional e contra o neocolonialismo na África. Neste momento, sobressaíram-se intelectuais e ativistas como G. Padmore, C. A. Diop, L. S. Senghor, A. Césaire, F. Fanon, K. N’Krumah, N. Azikiwe, A. Cabral e J. Nyerere. A partir da década de 1970, esta herança pan-africana foi re-apropriada pela diáspora, como mostra a luta anti-racista desde então.
Por sua importância histórica, este movimento político e de ideias tem ido alvo de uma série de análises acadêmicas ao longo do século XX e XXI. Afinal, o Pan-africanismo foi um dos ideários mais relevantes do pensamento social africano e da diáspora negra. Muitas vezes, em estreita relação com o marxismo e o liberalismo.
Entretanto, para além desta premissa básica, existe uma grande variedade de abordagens pan-africanistas sobre a África e as populações negras no mundo. Em particular, em regiões como o Caribe, os E.U.A. e o Brasil, onde a presença negra é marcante e, por vezes, majoritária. Discutir estas abordagens é uma questão central deste ciclo de debates.
Por outro lado, vale ressaltar que a herança pan-africana continua sendo uma tradição importante nas lideranças políticas africanas desde a fundação da União Africana (2002). Aliás, esta postura tem sido cada vez mais afirmativa em tal organização, como se pode observar das atas do último encontro, ocorrido em Maio de 2013. Em suma, conhecer a história do ideário Pan-africano (herança, diversidade, dissonâncias, continuidades, descontinuidades e ambiguidades) continua sendo algo relevante para compreender a política africana e negra atual.